terça-feira, 9 de julho de 2013

Eduardo Giannetti - As partes & o todo

Fonseca, Eduardo Giannetti da
As partes & o todo / São Paulo: Siciliano, 1995.

Prefácio & agradecimentos 

(...) Este livro, reunindo 59 artigos publicados na imprensa entre junho de 89 e outubro de 94 (...)

(...) Embora os artigos deste livro tenham sido publicados nos mais diversos jornais e revistas da imprensa brasileira, foi na coluna "Economia ilustrada" do Caderno Finanças da Folha de S. Paulo, com ilustração de Trimano (...)



Transito é microcosmo de nossa sociedade

(...) Mas a grande vedete do espetáculo é a sociedade. O motorista brasileiro é o 'homem cordial' de Sérgio Buarque de Holanda ao volante: "Cada indivíduo afima-se ante os seus semelhantes indiferente à lei geral, onde esta lei contrarie sua afinidades emotivas, e atento apenas ao que o distingue dos demais, do resto do mundo... A personalidade individual dificilmente suporta ser comandada por um sistema exigente e disciplinador". 
   Cada motorista individual busca o que é melhor pra si, o que é natural. Mas como as regras de interesse comum - o mínimo legal da convivência civilizada - são amplamente desrespeitadas, todos terminam vivendo em situação bem pior do que poderiam viver. O todo nega, frustra e faz literalmente picadinho da ambição das partes. É o paraíso (infernal) dos tolos.

Página 26



A base moral da economia capitalista

(...) Considere uma sociedade hipotética na qual não haja limites para o uso do dinheiro. Tudo pode ser objeto de compra e venda - tudo tem um preço. Nas relações privadas entre as pessoas  é possível adquirir qualquer coisa, desde órgãos humanos, fetos e bebês até serviços sexuais, lugares em filas e a eliminação de inimigos. Nas relações com o setor público, a mesma coisa: votos, cargos, fiscais, juízes, decisões de política econômica, emfim, tudo o que diz repeito ao governo pode ser comprado por qualquer cidadão que esteja disposto a pagar o preço.
   Até que ponto um sistema assim constituído - uma sociedade na qual o dinheiro manda em tudo e é capaz de tudo - poderia ser visto como o capitalismo levado às suas últimas consequencias? Isso não seria exatamente o capitalismo em estado puro?
   (...) Há coisas na vida, como por exemplo a lealdade de um amigo, sócio ou colega de trabalho, que simplesmente não são passíveis de compra e venda, e isso mesmo que não houvesse qualquer restrição moral à sua aquisição por dinheiro. 
   (...) A ideia de comprar lealdade é uma contrição em termos. Lealdade comprada é lealdade negada(...)


(...) O egoísmo sem freios e o oprotunismo tendem a florescer não nos países onde o capitalismo desenvolveu-se, mas naqueles onde ele não se firma.
   O argumento de Weber, diga-se de passagem, já estava contido na observação do economista inglês Alfred Marshall, segundo a qual "os métodos modernos de comércio requerem hábitos de confiabilidade, de um lado, e um poder de resistir à tentação de ser desonesto, de outro, que falta de uma infra-estrutura moral adequada é um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento do capitalismo e à superação da pobreza no mundo.

(...) Milton Friedman: "Um governo severamente limitado tem poucos favores a dar. Como consequência  haverá pouco incentivo para corromper autoridades estatais e o serviço governamental terá poucas atrações para as pessoas preocupadas principalmente com o enriquecimento pessoal". 

Páginas 28 e 29 



O desejo de colher o que outros plantaram 

(...) Max Weber no início do século, este traço é perene e universal: " O impulso à aquisição, a busca do ganho, do dinheiro, da maior quantidade possível de dinheiro, não tem nada a ver com o capitalismo. Tal impulso existe e tem existido entre garçons, médicos, artistas, cocheiros, prostitutas, funcionários desonestos, soldados, nobres, cruzados, apostadores e mendigos. Pode-se dizer que ele tem sido comum a todos os tipos de homens, de todas as condições, em todas as épocas e países do planeta, onde quer que a possibilidade objetiva dele exista ou tenha existido". 


   O que torna a corrupção endêmica na gestão do Estado brasileiro não é só a impunidade. Os grandes aliados da malversação (dolosa e culposa) de recursos públicos no Brasil são: 1) a inflação alta e crônica que destrói a transparência dos orçamentos e contas do governo; 2) o federalismo truncado da Constituição de 1988, que faz as verbas públicas darem 'passeios' absurdos por Brasília; 3) o elevadíssimo grau de politização da nossa economia (por exemplo, até a definição de carro popular no Brasil, para fins de isenção fiscal, depende de decreto governamental.)

Páginas 31 e 32



Nenhum comentário:

Postar um comentário